sexta-feira, 21 de abril de 2017

"Primeiro estranha-se depois entranha-se"

A amamentação é sempre um assunto bastante controverso. Talvez não o seja para quem não tem bebés, mas a partir do momento em que engravidamos e temos um bebé começa a ser um assunto recorrente e que divide opiniões.
Na minha ignorância achei que todas as mulheres amamentavam. Nunca perdi muito tempo a pensar nesse assunto, para mim era algo natural e que fazia parte de todo o processo. Quando comecei as aulas de preparação para o parto percebi que afinal a coisa não era assim tão simples. Há pessoas que não querem amamentar, há pessoas que não conseguem amamentar e há, claro, quem o queira fazer.

Quando a Mafalda nasceu, e quando eu própria me deparei com o desafio que é a amamentação, comecei a perceber que pelos vistos o mundo se divide entre quem amamenta e quem não o faz, o que me parece uma perfeita estupidez. No início para mim não foi fácil, e por isso pesquisei imenso sobre o tema, principalmente em relação à pega do bebé, uma vez que tinha dores insuportáveis a dar de mamar (assunto para um próximo texto). Comecei também a seguir vários grupos de amamentação no Facebook, toda a informação e ajuda era bem-vindas. Fiquei chocada com imensa coisa e aí sim percebi que há mesmo pessoas que acham que uma mãe que não amamenta não é boa mãe. Passei-me! Na altura eu própria estava com dificuldades e parecia que toda a gente à minha volta sabia o que fazer e adorava amamentar. Eu sentia-me a pior mãe do mundo! Todas as mães sabiam instintivamente quando a mama esvaziava e quando era altura de oferecer ao bebé a outra mama, todas sabiam se o bebé estava ou não satisfeito e pasmem-se (!), conseguiam dar de mamar em qualquer lugar e a fazer o que quer que fosse. Já eu não conseguia fazer nada disso, não percebia nada do assunto e tinha imensas dores. Não me imaginava a dar de mamar fora de casa, porque se em casa já era um filme, fora então seria o caos! Sentia-me péssima porque não gostava de amamentar, era um sofrimento. Pensei em desistir. Tudo o que lia, a respeito da amamentação, referia que era essencial que o bebé mamasse até aos 6 meses e eu achava que nem um mês iria aguentar.

Entretanto o tempo foi passando, as dores foram diminuindo e eu e a Mafalda tornámo-nos profissionais nisto da amamentação, uma dupla imbatível. Ela cada vez mamava melhor e eu comecei a sentir-me mais tranquila, menos pressionada, mais segura e confiante.
 Comecei também a perceber que se continuasse a amamentar era ótimo, fossem 6, 8 10 ou mais meses, mas que se não o conseguisse não vinha mal ao mundo. Não era por isso que seria melhor ou pior mãe, não seria por isso que iria amar mais ou menos a minha filha, nem criar mais ou menos laços com ela. Demorei a concluir isto (as hormonas são lixadas!), porque a pressão que fiz sobre mim era tanta, que não imaginava a minha vida e a minha relação com a Mafalda de outra forma. Eu tinha que amamentar! Sei que se calhar para quem está de fora isto possa ser uma estupidez, mas era o que eu sentia todos os dias, sempre que dava de mamar. Hoje em dia continuo a amamentar e adoro fazê-lo. Já chegámos aos 6 meses e espero continuar pelo menos até aos 12. No entanto, sei que se por algum motivo não o conseguir, não serei pior pessoa ou pior mãe.

Uma enfermeira na maternidade, quando ainda "lutava" com isto da amamentação disse-me que amamentar primeiro "estranha-se e depois entranha-se". Na altura não acreditei que isso fosse possível, mas passado 4 meses confirmo que ela tinha razão. Comigo foi assim, acredito que o seja para muita gente,  mas no final o importante é que a mamã e o bebé estejam bem e felizes, seja o leite da mama ou da latinha. <3




domingo, 2 de abril de 2017

O regresso.

Regressei ao trabalho esta semana e posso dizer que não foi fácil. Na verdade, foi duro, muito duro.
Foram 5 meses e 3 semanas em que vivi exclusivamente para a minha filha. As minhas rotinas eram as rotinas dela, os meus dias eram preenchidos por ela e na satisfação das suas necessidades, fossem elas a alimentação, colo ou um miminho bom. E de repente tudo isso termina e sou "sugada" de novo para a vida real.

No primeiro dia saí de casa com os olhos encharcados em lágrimas e uma dor no coração. Ia passar o meu dia sem ela, sete longas horas sem a ver, sem a alimentar, sem a sentir. Custou.
O dia passou tranquilamente, na verdade até tive a sensação de que passou depressa, mas foram vários os momentos em que a tristeza me invadiu o coração e imaginava o que ela estaria a fazer, se estaria a sentir a minha falta. Tive muitas saudades.

No final do dia corri para casa, o meu coração quase explodia de ansiedade de a ver. Abri a porta e lá estava ela ao colo do pai. Olhou para mim com um sorriso que nunca irei esquecer e finalmente senti-me bem. Estava em casa, estava completa.

sábado, 1 de abril de 2017

Dia 27, 23:31

Deito-me naquele que será o meu último dia a sós contigo.
Fecho os olhos e recordo um a um cada momento passado:
O perfeito de união e partilha, o péssimo com a exaustão e o choro.
Fomos uma, agora somos duas.
Cinco meses e meio depois sei de cor o teu cheiro, o toque macio da tua pele.
Sei de cor o teu choro, o teu sorriso e o teu olhar.
Fecho os olhos e imagino-te, sinto-te,
O coração já dói,
Tenho saudades.