segunda-feira, 13 de março de 2017

A 8 coisas que gostaria que me tivessem dito antes sobre o pós-parto.

Este era um texto que já queria ter escrito há algum tempo, mas ainda não tinha tido a oportunidade. O pós-parto não é fácil. Acho que não há aulas de preparação ou livros que nos preparem para ele. No meu caso senti que tinha sido atropelada por um comboio. As hormonas estão ao rubro, estamos cansadas, com sono e com um pequeno ser que requer toda a nossa atenção. Eu nunca tinha pegado ao colo num recém-nascido e nem sequer trocado uma fralda e de repente há que fazer isso tudo e muito mais. Pegar no bebé, mudar a fralda, dar banho, trocar a roupa, dar de mamar, pôr a arrotar, embalar, adormecer...uma pessoa sente-se perdida, sozinha e assoberbada. No entanto, e olhando agora para trás nestes quase 5 meses, sinto que cresci imenso e que de facto somos grandes e capazes de tudo. Cada dia é uma prova e uma superação e esse sentimento é maravilhoso. Apesar do cansaço instalado, de sentir muitas vezes que não faço ideia do que estou a fazer, o amor, o carinho, aquele sorriso e olhar valem por tudo, apagam todas as dores e as noites mal dormidas (ou não dormidas de todo).

Há várias coisas que gostaria de ter sabido antes de a minha filha ter nascido, ou que gostaria que me tivessem alertado. São coisas menos boas, mas que fazem parte de todo o processo e são normais mas não menos custosas. Não sei se nos cursos de preparação para o parto falam sobre isto. No curso que  fiz tudo isto foi falado muito por alto e por isso eu não dei grande importância, até ao dia em que de facto precisei.

#1
A subida de leite é terrível! 
Três dias após o nascimento da minha filha tive a subida de leite. Era de noite, estava no sofá e de repente quando me levanto estou completamente encharcada em leite. As minhas mamas tinham aumentado 5 vezes e eu não sabia o que fazer. A bebé dormia logo não tinha como esvaziá-las e de repente entrei em pânico. Não conseguia dormir, sentia-me febril, só transpirava. As mamas pareciam pedra, não sabia o que fazer. Mesmo a bebé mamando durante a noite não consegui que a tensão mamária diminuísse, estava desesperada.
Como os bebés são ainda pequeninos para conseguir vazar as duas mamas por completo e para evitar a dor, o melhor é mesmo massajar as maminhas e esvaziá-las para que a tensão mamária diminua e até se evite algo mais grave, como uma mastite. No entanto, e como a produção de leite ainda não está estabilizada, o uso de, por exemplo, uma máquina de extração deverá ser feito de forma regrada para evitar que se continue a produzir mais do que o necessário.
Conselho: ter à disposição uma máquina para tirar leite (sim é obrigatório!). Podemos depois nem precisar de a usar, mas mais vale prevenir.

#2
As maminhas e as saudades que tenho que dormir de barriga para baixo.
Com  subida de leite, e nos primeiros tempos, é impossível dormir de barriga para baixo (ainda não durmo). As maminhas doem...muito! Todas as noites acordava encharcada em suor como se estivesse com febre e logo a seguir ficava cheia de frio. Não é uma sensação agradável. Para além disso, ainda molhava pijama e lençóis com o leite que ia saindo durante a noite. Mais tarde lembrei-me que tinha comprado umas conchas para evitar molhar pijamas e afins (cabeça de grávida ou ex-grávida é esquecida) e comecei a utilizá-las. O problema? No meu caso a produção de leite era tal que enchia as conchas num instante e como elas têm uns buraquinhos para deixar respirar a mama, se não tivesse cuidado acabava por molhar tudo na mesma. Para utilizar as conchas tinha que colocar um soutien. A meio da minha gravidez comprei uns soutiens de amamentação e também me emprestaram alguns. Esses deram durante a gravidez, o problema foi que as maminhas no pós-parto passaram a mamonas, logo não havia soutien que me servisse e fosse confortável. Só mais tarde descobri uns soutiens sem costuras grossas que para mim, são os melhores para dormir porque não me apertam. Pena tê-los descoberto só quase 2 meses após a bebé ter nascido, teriam-me poupado algumas dores. Continuo a não conseguir dormir de barriga para baixo, mas pelo menos já estou mais confortável.
Conselho: ter uma máquina (elétrica ou manual); ter conchas ou algo idêntico para não se sujar tudo, e ter um bom soutien que seja confortável para dormir.

#3
Amamentar é maravilhoso, mas não no início. 
Toda a gente fala que amamentar é o melhor do mundo. A partir do momento em que engravidamos todas começamos a ouvir opiniões e histórias sobre amamentação. Ora porque dói e é horrível, ora que não dói e é maravilhoso, que não somos boas mães se não amamentarmos...enfim é terrível. Durante a gravidez sempre disse que iria amamentar, só não sabia o quão doloroso poderia ser. Uma pessoa vê uma mãe a amamentar e pensa que é super fácil mas a primeira realidade é completamente diferente. Comecei a dar de mamar ainda na sala de parto. A bebé começou a chorar, eu não sabia o que fazer nem tão pouco pô-la a mamar, ainda para mais estava deitada de barriga para cima, sem sentir parte das pernas. Veio uma auxiliar, ajudou-me a colocar a bebé a mamar e eu só pensei "Oh-meu-Deus! Isto é horrível! Isto dói imenso!" pareciam agulhas a espetarem nos mamilos, só me apetecia chorar. E assim foi durante uns dias. Sempre que a bebé colocava a boquinha era horrível, mas pelo menos eu sabia que ela estava a mamar. Fiquei com os mamilos cheios de feridas que demoravam imenso a sarar porque de 3 em 3 horas tinha que dar de mamar o que não dava tempo para que tudo cicatrizasse. Não foi fácil. Entretanto comecei a aperfeiçoar a pega, mas mesmo assim como estava com muitas feridas a dor era sempre intensa. O Purelan era o meu melhor amigo, mas havia dias que nem ele me valia. Em certas ocasiões quando o pai da bebé ma trazia e dizia que era hora de dar de mamar, vinham-me as lágrimas aos olhos porque era de facto doloroso e ainda para mais a bebé estava sempre a adormecer na mama por isso estávamos naquilo uma hora, às vezes mais, era muito intenso. Porém, tudo passa e após umas pesquisas de vídeos no Youtube consegui aperfeiçoar a técnica e a pega do bebé. Depois da técnica aperfeiçoada tudo fica melhor e de facto amamentar não dói e deve ser um momento pleno, vivido a 2 (ou a 3 caso o pai queira estar presente e fazer uma massagem à mãe, por exemplo). É de facto muito bom, os laços que se criam são maravilhosos e o saber que contribuímos para algo tão perfeito é a melhor sensação do mundo! Eu consegui aperfeiçoar a pega que a minha bebé fazia sozinha, mas há imensos profissionais que podemos consultar para que nos ajudem: CAM's, enfermeiras do centro de saúde, etc.
Conselho: amamentar não deve dar dor. Em caso de dor consultar um médico, uma CAM, a enfermeira do centro de saúde, etc. e não achar que somos nós que estamos a fazer algo de errado. Se não amamentarmos não vem mal ao mundo, o importante é que mãe e bebé estejam bem e felizes.

#4
O peso e o regresso ao que éramos antes da gravidez (Neste ponto sós somos avisadas para no engordar muito e blá blá blá, mas acho que ninguém liga muito).
Uma da coisas que mais me tem custado nestas semanas é subir à balança e ver o que número de mantém inalterado. Sempre fui uma pessoa que teve que ter cuidado com a alimentação e com a prática de desporto porque basicamente eu engordo com o ar que respiro. Antes de engravidar mudei completamente os meus hábitos alimentares e durante um ano estive a fazer uma dieta. Emagreci 18 quilos! Sei que foi muito, mas não foi uma perda de peso rápida, demorei um ano porque basicamente aprendi a comer e retirei da minha alimentação alguns alimentos mais calóricos.
Quando engravidei achei que iria conseguir manter a restrição alimentar mas não consegui. No primeiro trimestre tinha constantemente fome. Há quem se queixe de enjoos, eu tive zero, há quem se queixe do sono, eu não tive mais que o normal, mas já fome...eu só não tinha fome quando estava a comer! Resultado: comecei logo a engordar e até comia coisas saudáveis, mas a quantidade era imensa. Acabei por engordar na gravidez os 18 quilos que tinha perdido no ano anterior. Assim que a bebé nasceu perdi 6, passado uns dias perdi mais 2, restam agora 10 quilinhos que não estou a conseguir perder muito rapidamente e que, confesso, me tem deixado um pouco frustrada. Sei que com o tempo isto vai lá e voltando ao trabalho as coisas mais rapidamente voltarão ao seu lugar. Até lá muita paciência.
Conselho: quanto mais se engordar na gravidez mais difícil vai ser perder os quilos a mais. Quando a enfermeira ou médico voz der na cabeça é para o nosso bem! Comer coisas saudáveis e ter uma alimentação regrada. Claro que de vez em quando sabe bem aquele docinho e isso também faz parte, desde que não seja em exagero. A verdade é que quanto mais engordarmos mais temos que emagrecer, para voltar ao que éramos, e mais difícil se torna.

#5
As opiniões, teorias e comentários de terceiros.
Preparam-se! É que se já durante a gravidez tínhamos que levar com opiniões, comentários e teorias relativamente a isto e aquilo, após o nascimento só piora. Ou é porque o nosso leite deve ser fraco porque o bebé mama de 2 em 2 horas ou de 3 em 3 (duh é normal...é um bebé!), ou é porque os habituamos mal ao adormecer ao colo, ou é porque temos que os deixar chorar (oi?! como assim, deixar chorar?), ou porque se eu comer isto o bebé terá cólicas (flash news: o bebé que tem cólicas tem-nas sempre, nem que só bebamos água), ou porque demos a chucha (depois habitua-se e para largar vai ser difícil), ou porque não demos a chucha e o bebé chucha no dedo (depois vai chuchar no dedo até aos 18 anos), ou porque dorme na nossa cama, ou porque dorme num berço ao lado da cama e devia dormir no quartinho dele...enfim!
Conselho: a intuição de mãe é tudo e cada uma de nós saberá o que é melhor para o nosso bebé e o que melhor resulta connosco. Relativamente aos comentários é respirar fundo e "just smile and wave...smile anda wave...".

#6
Incha...desincha e não passa...
A minha gravidez no geral correu muito bem, tirando um pequeno susto às 33 semanas. Passei a gravidez feliz, não tive enjoos ou desejos e não inchei. Engravidei em janeiro o que significa que passei todo o verão grávida, e se há verões que são soft, o ano de 2016 não o foi. Houve dias de imenso calor o que não ajuda a que nos sintamos bem. A minha sorte foi trabalhar num sítio com ar condicionado. Evitava passar muito tempo na rua, mas mesmo assim ainda tive umas 2 ou 3 quebras de tensão (nada de grave). Por outro lado, e se há pessoas que incham imenso, eu quase não inchei. A minha médica preveniu-me logo e sugeriu que usasse meias de descanso, mas sinceramente sentia-me pior com elas, tendo acabado por quase não as usar. Só as usava quando sabia, por exemplo, que iria estar muito tempo de pé. No entanto, e apesar de ter passado a gravidez quase sem inchar, depois do parto não foi bem assim. Os meus pés duplicaram o tamanho e, para além de estarem inchados, ainda me doíam imenso.
Conselho: A solução passa mesmo por descansar, e sempre que possível colocar os pés e as pernas para cima. Estive assim 15 dias. Sei que não foi muito tempo, mas sentir-me inchada, com privação de sono, mamas inchadas, etc. não é fácil.

#7
Episiotomia 
Episiotomia é uma incisão efetuada na região do períneo (área muscular entre a vagina e o ânus) para ampliar o canal de parto. No meu caso essa incisão foi feita e se quando a mesma é realizada uma pessoa não sente nada (graças a Deus a quem inventou a epidural!), o mesmo não se poderá dizer no pós-parto. A verdade é que dói, dói muito! Dói a andar, dói a sentar, dói a fazer xixi...não é pêra doce! Estive assim cerca de duas semanas, mas a verdade é que de um momento para o outro deixa de doer e quando damos por ela já estamos como antes...ou quase vá :)
Conselho: respirar fundo, fazer uma boa higiene íntima e descansar.


#8
Lóquios
Após o parto o útero, colo do útero vagina e abdómen começam a encolher para o tamanho que tinham antes da gravidez. À medida que o útero se contrai, vai ter um corrimento vaginal, conhecido por lóquios. Eles são um corrimento vaginal normal variando a sua duração de mulher para mulher, sendo a média de 21 dias mas que se pode prolongar pelos primeiros 2 a 3 meses. No meu caso estive assim 1 mês que na altura me pareceu uma eternidade. Achava que me ia esvair em sangue para sempre. Ao inicio tive mesmo que comprar pensos higiénicos tamanho super, mas depois passado umas semanas os normais já davam perfeitamente. De qualquer das formas não deixa de ser desconfortável. Uma pessoa passa quase 10 meses sem a menstruação e depois parece que vem tudo de uma só vez.
Conselho: comprar muito pensinhos e estar preparada porque é normal. A vantagem é que passado umas semanas deixamos de ter o tal corrimento e, caso estejamos a amamentar, tão cedo não vemos a menstrução...yupiiiii :)

E pronto acho que estas 8 coisas foram as mais chatas no pós-parto. Gostava de estar já a contar com elas para não ter sido apanhada se surpresa, mas também sei que ao longo da gravidez e antes do parto uma pessoa recebe tanta informação que é difícil guardar tudo e lembrarmo-nos de tudo mais tarde. Tenho a certeza que com um segundo filho tudo será mais fácil porque estas coisas só mesmo passando por elas. Claro que cada mulher é uma mulher e cada pós-parto é um pós-parto. Da mesma forma que não há duas gravidezes iguais acredito que o mesmo se passe com o pós-parto, mas quanto mais informação tivermos do nosso lado mais confiantes e seguras nos vamos sentir e, acredito, isso será meio caminho andado para uma melhor e mais rápida recuperação.

O primeiro mês é, sem dúvida, o pior porque o corpo ainda está a recuperar e esta recuperação não é fácil. O nosso corpo sofre, durante 40 semanas, alterações muito grandes e é normal que custe um pouco a voltar ao que era. O que repito para mim é que preciso de ter calma, paciência e pensamento positivo, porque tudo irá correr bem. Cada dia que passa é uma prova superada e com o tempo tudo se aperfeiçoa e melhora.
No fim, o que mais importa, é estarmos bem física e psicologicamente, e aproveitarmos ao máximo os nossos bebés.




2 comentários:

  1. Parabéns pelo texto Rita! A verdade é que realmente pouco se fala sobre o pós-parto. Parece tudo lindo, mas essa fase é muito delicada e toda a informação e APOIO são bem-vindos!

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  2. É isso mesmo! Muito apoio e muita informação são fundamentais. É importante que a recém mamã não se sinta sozinha, não sinta que é a única a passar por isto ou que está a fazer alguma coisa de errada. Não é uma fase fácil, mas é uma fase que faz parte desta nova etapa e que como tudo na vida acaba por passar.

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